sábado, 30 de outubro de 2010

Os tucanos e a censura

Os tucanos não cansam de mostrar as asinhas. Em pleno fim de campanha presidencial, eles conseguiram interromper a distribuição da edição 52 da Revista do Brasil. O motivo? Apenas porque a publicação é declaradamente pró-Dilma. Tudo bem vender a fantasia de neutralidade e dizer aos outros: Veja, as coisas são assim. Agora, quando alguém aparece mostrando a que veio, precisa ser silenciado. Abaixo, o texto escrito por um dos repórteres da publicação. Quem quiser baixar a revista, basta passear nesse link aqui. 


PSDB quer liberdade de imprensa só para sua turma


Por: Paulo Donizetti de Souza, Revista do Brasil

Publicado em 19/10/2010

Atualizado. A Editora Gráfica Atitude Ltda. recebeu às 16h desta terça-feira, notificação do Tribunal Superior Eleitoral determinando a interrupção da distribuição da edição 52 da Revista do Brasil, bem como a não divulgação de seu conteúdo por esta página na internet. A decisão do TSE atende a um pedido de liminar da coligação do candidato José Serra à Presidência da República. A editora tomou as medidas técnicas em respeito à decisão, enquanto encaminha as medidas cabíveis visando à reconsideração do referido ato por parte do Tribunal.

A Revista do Brasil sofreu mais uma investida do PSDB. Por solicitação dos tucanos, na madrugada desta segunda-feira (18) o ministro Joelson Dias, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pediu a suspensão de circulação da edição 52, de outubro.

A ação da coligação "O Brasil pode mais", encabeçada pelo PSDB, de José Serra, foi atendida apenas em parte. Além da Revista do Brasil, suspende a circulação do Jornal da CUT, ano 3, nº 28. Mas três itens cruciais foram negados pelo ministro Dias. A demanda dos advogados tucanos queria silenciar o Blog do Artur Henrique, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e pedia a busca e apreensão do material mencionado.

O terceiro item negado é emblemático: o PSDB queria que a questão tramitasse em segredo de Justiça. Nenhuma informação sobre o processo poderia ser divulgada, caso o pedido fosse atendido. Isso denota intenções claras do tucanato de ocultar da opinião pública a própria tentativa de restringir, ou censurar, a circulação de informações e opiniões.

A divulgação foi feita pelo site do TSE e repercutiu em sites noticiosos ao longo do dia. A Editora Gráfica Atitude, responsável pela Revista do Brasil, só poderá se pronunciar quando for comunicada oficialmente pelo órgão sobre a decisão do juiz e seus eventuais desdobramentos.

De antemão, agradece as centenas de mensagens de apoio e de solidariedade recebidas ao longo do dia, fruto da mobilização da blogosfera. Qualquer ato dessa natureza – indispor o Judiciário contra às liberdades de imprensa e de expressão – merece no mínimo a condenação de todos os cidadãos que prezam pela democracia e pelo direito à informação.

Diferentemente de panfletos apócrifos destinados a difundir terrorismo, desinformação e baixarias das mais diversas – sejam eles de papel, eletrônicos, digitais ou virtuais –, a Revista do Brasil tem endereço, CNPJ, núcleo editorial e profissionais responsáveis. A transparência do veículo, ao expor sua opinião de forma tão clara quanto rara na imprensa brasileira, e o jornalismo independente e plural que pratica – patrimônio dos trabalhadores aos quais se destina – não merecem ser alvo de qualquer forma de cerceamento. 

Quatro anos depois

A edição 52 da Revista do Brasil trazia, à capa, uma foto da candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT), com a chamada "A vez de Dilma: O país está bem perto de seguir mudando para melhor". A publicação explicita em seu editorial a posição favorável à candidatura Dilma, e traz também reportagem analisando circunstâncias da disputa do segundo turno.

O pedido de restrição de circulação de seu conteúdo assemelha-se a uma investida datada de junho de 2006. À época, o mesmo PSDB encampou pedido de suspensão de distribuição da edição número 1 da revista. Havia ainda a demanda de que a edição deixasse de ser divulgada no site da CUT e do Sindicato dos Químicos.

Repetida a investida, fica latente o lado em que estão as forças aliadas a José Serra. O lado de quem quer liberdade apenas para o tipo de imprensa e de expressão que lhes convém. 

Editorial da Edição 52

O caminho a ser seguido

A chamada “guerra ao narcotráfico” no México já produziu mais de 28 mil mortos nos últimos quatro anos. Em todos os níveis, autoridades são corrompidas pelas organizações criminosas, ameaçadas, assassinadas. O país sofre influência direta dos Estados Unidos em sua política de defesa nacional. De acordo com o respeitado sociólogo mexicano Héctor Díaz-Polanco, o país está perdido, não tem projeto nacional e a sociedade está tomada por uma sensação de desalento. O México foi um dos mais engajados no neoliberalismo desde os anos 1990. Hoje, enfrenta sem forças um inimigo recente, poderoso e torpe, que abastece de drogas o assombroso mercado consumidor americano. O país não é pobre e poderia exercer liderança semelhante à do Brasil na América do Sul. Mas o Estado está debilitado. O assunto será objeto de reportagem de um dos próximos números da Revista do Brasil. Mas por que abordar, neste espaço, temas de uma edição que ainda está por vir?

Trata-se de dar uma vaga ideia do que poderíamos ter virado caso o Brasil não tivesse começado, há oito anos, a virar o jogo do neoliberalismo conduzido pelo PSDB/DEM. Sabe-se que a eficiência e a inteligência policial são essenciais no enfrentamento ao crime, mas essa ação será inócua se não forem combatidas a concentração de renda e a miséria, raízes mais profundas das sociedades violentas. No Brasil, foi nos presídios do estado mais rico que nasceu a principal organização criminosa do país, que mesmo de dentro das celas comandam suas operações. No sistema de segurança desse estado estão os piores salários de policiais do país, e nas escolas desse mesmo estado os profissionais de educação estão entre os mais desprezados. E as mesmas forças políticas e cabeças econômicas comandam esse mesmo estado há mais de 16 anos. E depois de se comportar como amigos da onça enquanto o Brasil reagia à crise econômica, agora ainda tentam retomar o poder central, perdido em 2002.

Diferentemente do que costumam alardear as cabeças tucanas e seus porta-vozes na imprensa, o sucesso da economia brasileira não está na “continuidade” da política da era PSDB/DEM. Está na ruptura iniciada há oito anos, que adotou o estímulo ao crescimento econômico em vez da estagnação. E que tem como resultado, ao contrário daquela época, o crescimento do emprego, da massa salarial, a inclusão social e a distribuição de renda.

É esse o ponto de partida para se chegar a uma sociedade sem violência, a um país que seja grande economicamente e também justo com seu povo. Que o Brasil siga nessa trilha, sem dar chance ao retrocesso.

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